quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Esporte e Racismo

ANDRADE – craque dentro das quatro linhas, craque como técnico-estrategista, orgulho afrodescendente

por Ricardo Riso

Um aspecto importante do jogo em que o Flamengo pode se tornar campeão brasileiro não vem sendo abordado pelos grandes meios de comunicação e que poderia motivar as complicadas relações étnicorraciais na sociedade brasileira: trata-se do técnico rubro-negro Andrade, que poderá se tornar o primeiro técnico negro a ser campeão do principal torneio nacional. E por uma feliz coincidência, o jogo decisivo será no Maracanã, cujo nome oficial é o do autor do histórico livro “O negro no futebol brasileiro” (1947), Mário Filho, irmão de Nelson Rodrigues. Filho, em seu trabalho pioneiro, aponta as discriminações sofridas pelo negro para ser aceito no meio do futebol.

O negro no futebol brasileiro só aparece com destaque como jogador. Foi assim desde que o ludopédio se instalou em nossas terras ao final do século XIX. De esporte de elite proibido aos negros, foi se popularizando entre as classes populares e, somente em 1923, que um clube abriu as portas para jogadores negros: o Vasco da Gama. Aos poucos, os afrodescendentes foram ocupando os espaços nos clubes e na seleção brasileira, mas o jogador tinha que seguir a máxima de que “não basta ser bom, é preciso ser o melhor” para ser aceito.

Talvez o período em que o racismo tenha sido escancarado no futebol tenha acontecido na derrota para o Uruguai, na final da Copa de 1950, no supracitado Maracanã. Naquela ocasião, o jogador Bigode e o goleiro Barbosa foram acusados como os responsáveis pela derrota brasileira por não conseguirem impedir o atacante Ghighia de marcar o gol da vitória. Esse acontecimento motivou a imprensa e parte da sociedade a exigir que negros e mestiços não fossem mais convocados para a seleção. Uma profunda bobagem, pois, passados oito anos, o Brasil seria campeão do mundo na Suécia com o mestiço e genial Garrincha e os negros Pelé (que se tornaria o Rei do Futebol) e Didi. Este, eleito o melhor jogador da competição.

Entretanto, a discriminação não poupou seus esforços. Barbosa sempre foi lembrado por sua falha e, em 1993, o ex-goleiro, já um senhor, talvez tenha sofrido a sua maior humilhação. Ele quis visitar os jogadores da seleção que estavam concentrados para um jogo das eliminatórias da Copa de 1994, mas foi proibido de entrar no hotel. Muitos goleiros negros sofreram com essa “maldição”, tanto que a seleção brasileira só voltou a ter um arqueiro afrodescendente com Dida na Copa de 2006.

Contudo, o racismo não se apresenta apenas dentro das quatro linhas. Só encontramos negros ocupando funções menores como roupeiros e massagistas, ainda assim imprescindíveis, nos clubes, mas jamais postos de liderança. Entre dirigentes e presidentes não vemos afrodescendentes trabalhando nesses cargos nos principais times do país. Essa reflexão pode ser ampliada à presença negra entre árbitros e jornalistas esportivos. Por coincidência, mínima também.

Por isso, o momento atual de Andrade como técnico e a expectativa do título brasileiro força-nos a pensar e a discutir as relações étnicorraciais dentro do futebol, principalmente por sermos a “pátria de chuteiras”. Por conseguinte, as práticas no futebol refletem a nossa sociedade.

Para ser técnico é preciso que o pretendente possua algumas características como liderança, conhecimento tático e capacidade intelectual. Nenhuma delas é associada ao jogador negro que se vale de sua força física para compensar a inteligência reduzida e do dom natural para minimizar suas falhas táticas no esquema do time. Isso já serve como justificativa para que o ex-jogador negro seja incapaz para exercer a função de técnico, pois lhe faltaria a sapiência que um estrategista deveria ter. Ou seja, depreendemos que na mentalidade do futebol brasileiro permanecem os discursos positivistas do final do século XIX.

Entretanto, parece que Jorge Luís Andrade da Silva, o Andrade, quer mudar a história e mostrar que o afrodescendente é capaz sim, desde que tenha oportunidade de trabalhar. De 2004 para cá, Andrade já assumiu o clube como interino em três ocasiões e sempre entregou o time em situação melhor que quando entrou. Foi menosprezado por Cuca que chegou a colocá-lo para compor barreira em treinamentos e ouviu do atual goleiro Bruno, seu comandado, após uma discussão durante um treino que “ele poderia ter ganho tudo como jogador, mas como técnico ele não era ninguém”. Claro que Bruno foi execrado pela torcida e pela imprensa esportiva, indignados com o seu desrespeito a um ex-craque rubro-negro.

Como vemos, o Tromba, como era conhecido por seus companheiros no tempo de jogador, enfrentou situações desconfortáveis mas jamais veio a público reclamar por qualquer injustiça dentro do Flamengo. Sua resposta veio com o retrospecto da passagem atual pelo comando da equipe, em 2009 realiza seu melhor trabalho.

Até agora sua postura como técnico desde que foi efetivado pela diretoria, tem se caracterizado pela serenidade, controle emocional e humildade ao segurar a euforia dos jogadores e exaltar o trabalho do grupo; conhecimento tático ao buscar alternativas ofensivas e romper com o passado “retranqueiro” que dominou o Flamengo desde a passagem do técnico Joel Santana em 2007; educação e inteligência no trato com a imprensa não exibindo a truculência e a arrogância dos principais técnicos do Brasil, os “professores doutores” do futebol.

Além disso, Andrade é parte da história do Flamengo, exatamente no seu momento mais glorioso. Ele era o cabeça-de-área do time campeão do mundo liderado por Zico, o que o faz ter o carinho e o respeito da torcida. Enquanto jogador rubro-negro conquistou quatro títulos estaduais, quatro nacionais, uma libertadores e um mundial. Passou pelo rival Vasco da Gama e ganhou mais um brasileiro. Se a memória não me trair, Andrade é o jogador com o maior número de títulos nacionais desde que a CBF criou o campeonato brasileiro: cinco.

Na minha infância e adolescência ia muito aos jogos daquele grande time do Flamengo. Recordo-me que Andrade, ao início das partidas, sempre procurava enfiar a bola entre as pernas de seus marcadores (a famosa “caneta”), inflamando a torcida a empurrar o time para o ataque. E foi assim, de caneta em caneta que Andrade conseguiu romper o preconceito, se firmou como técnico e poderá viver mais um momento histórico no futebol caso seus comandados conquistem o título. Além disso, se tornará mais um motivo de orgulho para a população afrodescendente brasileira.
***
Está na
www.afropress.com

Andrade é o 1º negro campeão brasileiro como técnico
6/12/2009

Rio - Com a vitória por 2 a 1 do Flamengo sobre o Grêmio, neste domingo (06/12) no Maracanã, seu técnico, Jorge Luis Andrade da Silva, o ex-jogador Andrade (foto), entrou para a história do futebol tornando-se o primeiro treinador negro a conquistar o campeonato brasileiro.
Andrade já havia sido campeão brasileiro atuando pelo Flamengo nos anos de 1980, 1982, 1983 e 1987 (Módulo Verde da Copa União), além do título de 1989, com o Vasco.
O campeonato teve apenas dois treinadores negros: Sérgio Soares, do Santo André e Lula Pereira – atualmente desempregado. Na série B a presença negra igualmente é rara.
Segundo o jornalista Mário Filho – que dá nome ao estádio do Maracanã e é autor do clássico "O negro no Futebol brasileiro", de 1.947 - foram os negros que reinventaram o futebol no país, dando ao esporte características distintas do período em que era praticado apenas por filhos de ingleses ricos e aristrocratas.
Embora se constituam na esmagadora maioria nos campos, ainda são raros como técnicos ou cartolas.

Racismo: No caso de Andrade até o início do campeonato era treinador interino. Foi sub de nove técnicos até ser efetivado este ano. Segundo o também ex-jogador Júnior, agora comentarista da Globo, Andrade só não foi efetivado como técnico por racismo. Em 2004, quando era gerente de futebol do clube, Júnior disse ter tentado efetivá-lo no cargo, porém, revela ter ouvido, em meio aos comentários sobre inexperiência do treinador, argumentos racistas contra.
“No momento de colocações de virtudes e defeitos, vieram comentários deste tipo. Além da inexperiência no cargo, diziam que era um negro sem boa dicção”, contou.

Pó de Arroz
No início do futebol no Brasil (primeira década do século passado) os times não aceitavam jogadores negros. Para driblar a proibição os jogadores passaram a esticar o cabelo e a encher os rostos de pó de arroz para se passarem por brancos, evitando hostilidades das torcidas.
Em 1.914, o jogador Carlos Alberto, do Fluminense, foi vítima dessa tentativa de disfarce. Durante uma partida do seu time com o América, a maquiagem começou a escorrer revelando a sua verdadeira cor. Passou a ser chamado pela torcida adversária de Pó-de-Arroz.

Direitos Humanos e racismo no Brasil

domingo, 13 de dezembro de 2009

DE UM NEGRO PARA UM JURISTA BRANCO: PELA GRANDIOSIDADE DO BRASIL, REVEJA SEUS CONCEITOS!

Capitão Marinho*

Dia 10 de dezembro, é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Esta data é consequência da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Esta Declaração é o primeiro documento internacional que afirma a universalidade dos direitos fundamentais e a IGUALDADE entre todos os seres humanos. O Brasil, como país signatário da Declaração dos Direitos Humanos, é obrigado a promover políticas de igualdade e rechaçar qualquer conduta que mantenha estagnada a desigualdade entre os seres humanos – quer seja econômica, educacional, cultural ou étnica.

Passado mais de sessenta anos da Declaração, as políticas de promoção à igualdade, lamentavelmente, ainda encontra resistência de pessoas que têm um grande poder de formar e modificar opiniões, como o destacado jurista Ives Gandra – professor emérito das universidades Mackenzie e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército – que afirma: “Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios”. Fica a indagação: o quê ele pretende com esta afirmação? Retroceder à época da escravidão? Em plena época que todo o planeta entende que a diversidade e a igualdade entre os seres humanos é o maior bem que a humanidade pode ter, será que ele quer manter o fosso que separa negros e brancos?

Ora, se um eminente jurista, professor emérito de universidade, branco e milionário se acha discriminado, nesta terra de casta e privilégio, o que dirá o homem negro que foi espancado ontem, 12/12/09, em Ribeirão Preto-SP, por três universitários de medicina (Faculdade Barão de Mauá), que foram soltos minutos depois, porque o Juiz entendeu que o fato deles baterem em um homem desconhecido, gritando "toma nego" não caracteriza injúria racista? O que dirá os jovens negros que percebem, nitidamente, que uma pessoa atravessou a rua com medo de cruzar com ele na mesma calçada? O que dirá os 14,2 milhões de brasileiros adultos que são analfabetos? O que dirá os afrodescendentes que quando vêem a coluna social não se identifica fisicamente com ninguém? Ah, falar em coluna social, abordarei, no próximo parágrafo, a história de algumas famílias de imigrantes (obviamente brancos) que fizeram fortunas, algo IMPOSSÍVEL para os negros, pois naquela época (1870 a 1930), ou eles estavam no cativeiro vivendo de pão duro e água fria, ou estavam sendo tratados iguais a animais no Brasil que predominava a ideologia do médico e biólogo francês Louis Couty – política do branqueamento – que afirmava da necessidade de haver, no Brasil, imigração européia para “melhorar” o povo brasileiro.

Das inúmeras famílias brasileiras ditas tradicionais, vou tecer breve comentário sobre a Família Matarazzo, a Família Diniz e a Família Hering. Família Matarazzo: sua história tem início com a chegada de Francisco Matarazzo à cidade São Paulo em 1881. Nascido na província de Salermo, Itália. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros; Família Diniz: sua história começou com a chegada de Valentim dos Santos Diniz à cidade de Santos-SP em 1929. Nascido em Polmares do Jarmelo, Portugal. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros; Família Hering: originária de Hartha, na Alemanha, se estabeleceu em Blumenau-SC em 1878. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros. Será que o Dr. Ives Gandra não conhece esta parte da história brasileira? Ou será que ele acha que as famílias brasileiras “tradicionais” são descendentes de africanos?

Confesso que este posicionamento do Dr. Ives Gandra ajuda-me a compreender porque o Exército, através da sua Editora (BIBLIEX), publicou, este ano (2009), um livro negando o racismo no Brasil, contrariando as políticas públicas adotadas em um Estado Democrático de Direito. Ora, este Jurista é professor da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, curso obrigatório para quem almeja ascender ao generalato, ou seja, todos os generais do Exército cursaram esta escola, e uma grande parte – dos que estão no Comando atualmente – aprenderam na cartilha deste Professor. Entretanto, prefiro acreditar que a publicação do livro negando o racismo tenha sido uma atitude isolada de algum oficial, embora, como cidadão brasileiro, acredito que a Força Terrestre vai publicar algum livro reconhecendo o racismo no Brasil (não é “camuflando” o problema que iremos resolvê-lo), pois não seremos grande como Nação enquanto existir números estarrecedores – como os divulgados pelo IPEA, PNUD e IBGE – que demonstram, claramente, as distorções entre os negros e os brancos brasileiros.

Concluindo, em um País que é indubitável a dificuldade para o negro progredir, quando um homem branco, jurista renomado, professor universitário e milionário se diz discriminado como cidadão comum, das duas uma: ou ele não quer que o Brasil seja grandioso; ou ele, realmente, está perdendo espaço, pois nesta terra estão acabando com as castas e os privilégios. Por fim, de um Negro para um jurista branco: pela grandiosidade do Brasil, reveja seus conceitos!


* Quem sou eu

Capitão Marinho
Estudei da alfabetização à terceira série do ensino médio - toda vida escolar - no Colégio da Polícia Militar da Bahia; Mestre em Direito pela UCAM-RJ; Capitão do Exército; Graduado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras; Pós-graduado em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército; Graduado em Direito; Pós- Graduado em Direito Penal e Processo Penal; Pós-Graduado em Psicologia Jurídica; Gestor em Segurança Pública e Justiça Criminal pela Universidade Federal Fluminense.Em suma, uma pessoa que acredita, veementemente, que o estudo proporciona a realização dos sonhos mais difíceis, pois o conhecimento produz poder!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Francisco de Paula Brito Primeiro Editor Brasileiro

MUSEU AFRO BRASIL REVELA EM EXPOSIÇÃO A TRAJETÓRIA DOPRIMEIRO EDITOR BRASILEIRO
Museu Afro Brasil revela a trajetória de Paula Brito, o precursor da história editorial brasileira
Exposição: Francisco de Paula Brito – 200 Anos do Primeiro EditorBrasileiro (1809-2009)
Período: 05/12/2009 a 25/01/2009 Local:
Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Parque Ibirapuera – Portão 10
Funcionamento: de terça a domingo – das 10 às 17 horas (permanência até às 18 horas)
Estacionamento: Portão 3 – Parque Ibirapuera (Zona Azul)
Entrada: Grátis
Informações à Imprensa Claudia Alexandre Assessoria de Imprensa Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura
(11) 5779-0593 ou (11) 9172-4662 // 7881-2688 ID 86*201-11
Francisco de Paula Brito, de aprendiz de tipografia a maior personalidade da história editorial do Brasil.
A exposição Francisco de Paula Brito – 200 Anos do Primeiro Editor Brasileiro (1809 – 2009), que foi inaugurada no próximo dia 05 de dezembro, às 13 horas, no Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura, revela a história do iniciador do movimento editorial brasileiro e sua contribuição valorosa no progresso da arte tipográfica. A realização é do Museu Afro Brasil e Governo do Estado de São Paulo, com patrocínio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e apoio da Prefeitura de São Paulo.
Em plena sociedade escravista Paula Brito foi tipógrafo, litógrafo, editor, jornalista, tradutor, poeta, contista e teatrólogo. A mostra reúne obras que foram impressas, traduzidas e escritas por este carioca, que foi também um dos primeiros contistas brasileiros. Entre os livros estão os 37 volumes da gigantesca Coleção Brasiliana, que pertencem à Biblioteca José e Guita Mindlin e foram impressos pelo próprio Paula Brito entre 1837 e 1862. Outras 10 publicações são da coleção particular do diretor-curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, que também assina a curadoria desta mostra. A exposição conta com painéis, imagens das principais publicações e cenas do cotidiano da cidade natal, Rio de Janeiro do século XIX. O público pode conferir de perto uma centenária prensa alemã da marca Krause, usada para trabalhos de litografia em produções editoriais.
Na qualidade de contista, o negro Francisco de Paula Brito (1809-1861) é um dos precursores do gênero no Brasil. Nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro de 1809 e morreu na mesma cidade em 1 de dezembro de 1861, portanto 27 anos antes da Abolição da Escravatura no Brasil. Iniciou sua carreira na adolescência como aprendiz da Tipografia Nacional. Em 1827 foi contratado pelo recém fundado Jornal do Comércio como compositor tipográfico, assumindo mais tarde o departamento de Impressão. Em 1831, tornou-se dono da loja de encadernação de livros de um primo, quando inicia uma revolução com a introdução da tipografia, tornando-se o primeiro editor do país. A “Tipografia Fluminense de Brito & Cia” passou a ser um ponto de encontro de políticos e intelectuais como Machado de Assis. De sua tipografia saíram obras como “O Mulato” e o jornal “O Homem de Cor”, a primeira revista cultural de importância, a “Guanabara” e o primeiro jornal brasileiro dedicado à luta contra o preconceito racial, o que lhe rendeu mais um título, o de precursor da imprensa negra.
Engajado na luta abolicionista, ele militava contra a escravidão e a favor da igualdade racial, antes mesmo de expoentes da causa como José do Patrocínio e Joaquim Nabuco terem nascido. Com Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro, compôs o “Lundu da Marrequinha”. Seus contos e novelas são publicados a partir de 1839: “O triunfo dos indígenas”; “Os sorvetes e o Fidalgo Fanfarrão”; “A revelação póstuma”, “ A mãe-irmã” e “O enjeitado”, entre outros.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Grito de Belém

JB 05 de dezembro de 2009

O grito de Belém

Cristovam Buarque

Nesta semana, das margens do Amazonas, no moderno centro de convenções de Belém, o mundo recebeu um grito de alerta entoado por representantes de 156 Estados-membros da UNESCO, entre eles, 93 ministros da educação.
O cenário da floresta – cujo desmatamento simboliza uma das causas da grave crise ecológica – emoldurou o Grito de Belém, que trata do problema da educação e da alfabetização de adultos.
O Grito de Belém é o resultado da VI Confintea – Conferência Internacional de Educação de Adultos, convocada pela UNESCO a cada 12 anos.
Desde 2003, o Brasil foi escolhido como sede da reunião, depois daquelas realizadas em Elsinore, Dinamarca, 1949; Montreal, Canadá, 1960; Tóquio, Japão, 1972; Paris, França, 1985 e o último em Hamburgo, Alemanha, 1997.
É em Hamburgo que está a sede do Instituto da UNESCO para Educação ao Longo da Vida, que organiza essas conferências. Como membro do Conselho desse Instituto há 5 anos, fiquei muito satisfeito com o início dos trabalhos da VI Confintea.
Também senti a força dos discursos de abertura que mostram o compromisso de tantas pessoas com a educação no mundo.
A nova Diretora-Geral da UNESCO, Irina Bokova, lembrou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos incluiu o direito de cada um a educação, e que – 60 anos depois – ainda necessitemos reafirmar esse direito.
Disse que “nenhum país subiu a ladeira do desenvolvimento humano sem fortes investimentos em educação”. Concluiu o discurso citando Paulo Freire e dizendo: “educação é condição para liberdade”.
A princesa Laurentien, da Holanda, representante especial da UNESCO para Alfabetização, falou sobre a necessidade de esforço mundial pela educação de todos os adultos – especialmente na alfabetização.
E disse: “se quisermos educar uma vila, eduquemos suas mulheres”.
O ex-presidente do Mali, Alpha Konare, concentrou sua fala na defesa do continente africano, onde o problema da falta de acesso à educação se mostra da forma mais drástica.
Referiu-se ao Presidente Lula como “nosso patrimônio comum” e defendeu a ideia, nascida em 1998, em Brasília, de se fazer a troca da dívida por investimentos em educação.
O Diretor do Instituto da UNESCO para Educação ao Longo da Vida, Adama Ouane, propôs uma estratégia para que o mundo enfrente o problema do analfabetismo de adultos e ofereça educação continuada para todos.
No conjunto, os representantes de todos os países presentes defenderam a necessidade de um esforço mundial pela alfabetização e educação de adultos.
Esse Grito de Belém não receberá a divulgação do grito que esperamos que seja dado em Copenhague, na próxima semana, por uma redução nas emissões de CO2.
Mas é a manifestação de pessoas comprometidas com a busca de um futuro a ser construído sobre dois pilares: educação de qualidade para todos e o equilíbrio ecológico para próximas gerações.
Ainda mais quando se sabe que a solução para o problema do meio ambiente está em uma revolução educacional para mudar a mentalidade viciada da civilização industrial, que mede o progresso pela produção industrial a qualquer custo – social ou ecológico.
A VI Confintea escolheu Belém por respeitar a importância da questão ambiental.
Esperemos que a reunião de Copenhague abra um debate mundial sobre a educação de adultos e faça todos perceberem que ela só será solucionada quando as crianças forem educadas na idade certa.
Tenho defendido, e levarei a Copenhague, no encontro da União Internacional de Parlamentares, a ideia de que o mundo exige que cada político seja uma voz em defesa do mundo e não só dos interesses locais de onde exerce sua atividade política.
É isso que me fez, nos últimos dias, falar sobre a imoralidade política no DF, mas sem deixar de usar esse espaço neste jornal para falar dos gritos de Belém e de Copenhague.
Esperamos que o Grito de Belém e o Grito de Copenhague se juntem em um Canto de Esperança para todo o mundo e todas as gerações do futuro, graças à educação de qualidade para todos e a um desenvolvimento sustentável para a civilização.

Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fizemos algo de errado

Pronunciamento do Presidente Oscar Arias, da Costa Rica
- Discurso proferido na presença de todos os presidentes latino-americanos, na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009
"ALGO HICIMOS MAL"


"Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo.
Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes de que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.
Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem
nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade. Há também uma diferença muito grande.
Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.
Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal.
Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia do Sul. Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura em questão de 35 a 40 anos é um país com $40.000 de renda anual por habitante.
Bem, algo nós fizemos mal, os latino-americanos.
Que fizemos errado?
Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal.
Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos.
Essa é a escolaridade média da América Latina e não é o caso da maioria dos países asiáticos. Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, similar a dos europeus.
De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América
Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário.
Há países que têm uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil, quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10.
Nós temos países onde a carga tributária é de 12% do produto interno bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não cobremos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países.
Ninguém tem a culpa disso, a não ser nós mesmos
Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que
um cidadão latino-americano. Hoje em dia, um cidadão norte-americano é 10, 15 ou 20 vezes mais rico que um latino-americano.
Isso não é culpa dos Estados Unidos, é culpa nossa.
No meu pronunciamento desta manhã, me referi a um fato que para mim é grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século XI, é um sistema de valores equivocado.
Porque não pode ser que o mundo rico dedique 100.000 milhões de dólares para aliviar a pobreza dos 80% da população do mundo "num planeta que tem 2.500 milhões de seres humanos com uma renda de $2 por dia" e que gaste 13 vezes mais ($1.300.000.000.000) em armas e soldados.
*Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000* milhões em armas e soldados.
Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo?
Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infra-estruturar necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; é produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas.
Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece no entanto que estamos nos sessenta, setenta ou oitenta.
Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou.
Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente
penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século
XXI é um século dos asiáticos não dos latino-americanos. E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*.
Para só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito
acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas
que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa é que cace ratos".
E se Mao estivesse vivo, teria morrido de novo quando disse que "a verdade é que enriquecer é glorioso".
E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje crescem a 11%, 12% ou 13%, e tiraram 300 milhões de habitantes da pobreza, nós
continuamos discutindo sobre ideologias que devíamos ter enterrado há
muito tempo atrás.
A boa notícia é que isto Deng Xiaoping o conseguiu quando tinha 74
anos. Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo ninguém que
esteja perto dos 74 anos.
Por isso só lhes peço que não esperemos completá-los para fazer as
mudanças que temos que fazer.

Muchas gracias."

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

BID E EDUCAÇÃO

Cristovam sugere que BID invista em educação

Ao discursar na sessão de homenagem ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelos seus 50 anos, a serem comemorados no dia 30 de dezembro, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu a participação da instituição em programas de financiamentos voltados para a melhoria do sistema educacional dos países associados com deficiências neste setor.
- A gente precisa de um banco que ajude a fazer a revolução do século 21: a revolução do conhecimento para todos, igualmente, e a revolução do conhecimento da mais alta qualidade para aqueles que tiverem talento, persistência e vocação, mas escolhidos entre todos, não apenas entre uma minoria que, no nosso continente, consegue aprender a ler, fazer o ensino fundamental, terminar o ensino médio, entrar numa universidade e fazer um bom curso - disse.
Segundo Cristovam, "a saída" para o desenvolvimento de países pobres não está na expansão de indústrias ou na agricultura de exportação, mas apenas no aprimoramento das escolas.
Autor do requerimento de homenagem, Cristovam justificou seu pedido reconhecendo a importância fundamental do BID para vários projetos em andamento no Distrito Federal, iniciados à época de governo. A razão mais importante, no entanto, para a realização da sessão, foi de ordem sentimental, em razão de ter trabalhado durante seis anos na instituição em Washington, Tegucigalpa e Quito.
Na primeira parte de seu pronunciamento, Cristovam apresentou um histórico da trajetória do BID, destacando a participação do presidente Juscelino Kubitschek para a criação do banco. Em 1958 JK, lembrou o senador, sugeriu ao presidente norte-americano Eisenhower a ampliação dos esforços de cooperação, o que levou a decisão de fundação do banco.
- Os empréstimos e as garantias e doações disponibilizados pelo BID ajudaram a financiar projetos de desenvolvimento e até hoje respaldam estratégias para reduzir a pobreza, expandir o crescimento, ampliar o comércio e o investimento, além de promover a integração regional, o desenvolvimento do setor privado e a modernização do Estado - afirmou Cristovam.

Da Redação / Agência Senado 26.XI.2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ler e refletir: O visitante que veio da Pérsia

O visitante que veio da Pérsia

Jornal do Brasil 25/11/2009

Mauro Santayana

A movimentação diplomática do Brasil, tendo à frente a personalidade peculiar de seu atual chefe de Estado, vem sendo criticada pela oposição e meios de comunicação, e de forma ainda mais contundente, quando se dispôs a receber o presidente do Irã. Houve passeatas, muito bem organizadas, com dísticos e faixas caras, contra o visitante. Não houve os mesmos protestos quando o presidente recebeu, há poucos dias, o presidente de Israel.
O presidente do Irã é alvo da ira geral do Ocidente porque, em seu confronto com Israel – única potência nuclear do Oriente Médio – nega o Holocausto. Ele se inclui entre os revisionistas, alguns alemães, outros ingleses, outros ainda da hierarquia da Igreja, que também negam a existência dos campos de extermínio, ou tentam diminuir o número de mortos, judeus e não judeus, nos campos de concentração. Os judeus, os comunistas, os ciganos e os eslavos foram as vítimas preferenciais dos nazistas, dizimados pelo trabalho forçado, pela fome e pelo gás.
Há farta documentação do que ocorreu entre 20 de janeiro de 1942, quando os nazistas decidiram, no encontro de Wannsee, programar a “solução final” para o problema judaico, e 17 de janeiro de 1945, quando os soviéticos ocuparam o campo de Auschwitz. Nos três anos, milhões de seres humanos foram chacinados pelos nazistas. O presidente Ahmadinejad sabe disso, mas, em sua luta contra Israel, nega-se a aceitar a História. Se foram 6 milhões, 600 mil, ou 60 mil, o crime é o mesmo. Não é o número de vítimas que nos deve espantar, e sim a presunção de superioridade racial de que se arrogavam os alemães para a prática do genocídio.
O mesmo sentimento de horror que nos leva ao confrangimento da alma, diante do que fizeram os alemães, nos atinge, quando assistimos ao que se passa na Palestina. Não há, diante das tragédias de nosso tempo, bons culpados e vítimas más. Há culpados e há vítimas. A maior oposição que se faz ao Estado de Israel, e com razões históricas, é o fato de que os palestinos tenham sido privados de sua terra, privados de água, submetidos ao bloqueio de comida e de remédios, além de cercados pelo muro e bombardeados. Os palestinos nunca fizeram progroms, como os eslavos, jamais mandaram queimar judeus – como os cristãos, em Basileia, e em outros lugares. Não os submeteram aos autos de fé, como os ibéricos, durante a Inquisição. Não os eliminaram nos campos poloneses. Não lhes cabe purgar os crimes do antissemitismo, quando eles também são semitas, tanto quanto os que lhes ocupam o solo.
Estabeleceu-se, pela força do convencimento dos meios mundiais de comunicação, que os palestinos são terroristas, e os israelenses, democratas. Não nos incluímos entre os que admiram o presidente do Irã. Algumas de suas declarações espantam pela falta de senso. Mas não lhe falta bom senso quando defende o direito de o Irã desenvolver pesquisas nucleares. Se os iranianos são ameaça a Israel, com seu projeto, os senhores da guerra de Israel, que já dispõem de artefatos nucleares, como orgulhosamente proclamam, e anunciam que irão, são ameaça ainda maior. Nada os faz com mais ou com menos direitos no mundo. Nem a fé religiosa, nem os hábitos cotidianos. A língua persa não é menos importante do que a hebraica, com sua rica literatura. Nem o presidente Ahmadinejad é menos chefe de Estado pelo fato de dispensar o uso da gravata.
O segredo do presidente Lula é a sua percepção de homem comum. Ele acha, e com razão, que uma boa conversa pode resolver os problemas, desde que haja boa-fé entre todos os interlocutores. Disso se deu conta Obama que pediu, pessoalmente, a Lula, durante o encontro do G-8, em Áquila, na Itália, no dia 9 de julho deste ano, que tentasse demover Ahmadinejad de desenvolver armas nucleares – conforme disse, no mesmo dia, à imprensa, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Ao que parece, o New York Times não cobriu o encontro de Áquila.
Os opositores domésticos de Lula se esquecem disso. Os Estados Unidos que admiram não é o de Obama, mas o de Bush e Chenney. É difícil que o presidente consiga, no Oriente Médio, uma paz negada há mais de 60 anos. Mas, se ele conseguir negociações entre as partes envolvidas, mesmo com progressos limitados, será bom para o mundo. Não são todos os judeus de Israel que querem eliminar os palestinos e bombardear Teerã, e nem todos os muçulmanos desejam o fim de Israel. É contando com eles que Lula busca a paz.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Por um Quilombo do Terceiro Milênio JB 20.X.2009

Por um quilombo do terceiro milênio

Antoninho Marmo Trevisan, Jornal do Brasil

RIO - O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, data em que o bandeirante Domingos Jorge Velho teria assassinado Zumbi dos Palmares, no ano de 1695. Na ocasião, o herói da luta negra contra a escravidão contava cerca de 40 anos de idade.
Se vivesse hoje, o quarentão de pele escura seria um homem sem curso superior, com renda mensal inferior a mil reais. Se fosse casado, sua mulher estaria desempregada, ou trabalharia sem carteira assinada e ganharia mais ou menos 700 reais por mês. Os filhos teriam largado a escola antes de concluírem o ensino fundamental. Se algum deles ingressasse na universidade, seria o primeiro diplomado da família.
Imaginar um presente tão pouco glorioso para uma das figuras mais importantes da história brasileira não é delírio, mas uma dedução razoável quando se toma como base a Relação Anual de Informação Social (Rais) do Ministério do Trabalho, que teve sua última edição divulgada em meados deste ano.
O Rais mostra que o Brasil ainda é um país em que as oportunidades de trabalho e de melhoria de renda estão nas mãos dos homens brancos. Eles ocupam 11,9 milhões de postos de trabalho formais, contra 7,6 milhões de empregos ocupados por mulheres brancas e apenas 498.521 por mulheres negras. O salário médio dos brancos é de R$ 1.671,00; das mulheres brancas, R$ 1.407,00, e das negras, em torno de R$ 790.
Esses dados revelam uma realidade incômoda: embora o Brasil não seja um país racista na estrita acepção do termo, ainda persiste uma discriminação subjacente, disfarçada.
De acordo com o mapa das ações afirmativas no ensino superior, elaborado pelo Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), 32% das instituições públicas de ensino existentes no país (ou seja, 72 delas) promovem algum tipo de ação afirmativa. Destas, 53 adotam cotas étnico-raciais, sendo que 34 instituições possuem medidas afirmativas específicas para negros. O critério mais utilizado para identificar quem tem direito às cotas é a autodeclaração.
A falta de critérios mais bem delineados para a inclusão deste ou daquele indivíduo nos benefícios das ações afirmativas suscita distorções, como o episódio em que dois gêmeos idênticos se candidataram à Universidade de Brasília pelo sistema de cotas e apenas um deles foi considerado negro. Esses casos isolados põem fogo nos debates, mas tiram do foco o que é mais importante: primeiro, saber se as cotas funcionam; segundo, descobrir se elas são, de fato, a melhor opção para o Brasil, ou se fizeram sentido em um momento específico de um país que nada tem a ver com o nosso – no caso, os Estados Unidos pós-anos 60.
As disparidades brasileiras devem ser analisadas a partir da perspectiva de um racismo estrutural, calcado em analfabetismo. No começo desta década, havia 47% de negros, com 60 anos ou mais de idade, analfabetos, e 25% dos brancos na mesma situação. E, enquanto os brasileiros brancos permanecem na escola por 7,7 anos (o que é pouco!), os negros estudam, em média, 5,8 anos.
Quem atua junto a grandes organizações, como é o meu caso, percebe na prática que o mundo corporativo ainda não tem uma presença significativa de mulheres, nem de negros, e menos ainda de mulheres negras jovens. E nas faculdades de contabilidade, que são celeiros de futuros auditores e consultores, esse perfil étnico não se faz presente de maneira significativa. O que afasta essas pessoas de uma profissão que é, a um só tempo, interessante, rentável e ascendente?
Como se vê, as perguntas são muitas, e as respostas, poucas e insatisfatórias. Corrigir distorções históricas é fundamental para a construção de um país mais justo. Não se deve, contudo, incorrer no erro de reduzir a questão da exclusão social ao aspecto étnico-racial. Num país como o nosso, onde uma pessoa de sobrenome italiano pode ter a pele escura e traços inequivocamente africanos, as políticas públicas voltadas para a promoção da equidade precisam ser cuidadosamente planejadas.
No meu entendimento, o foco primordial deve ser a busca por uma educação cada vez mais excelente. O ensino gratuito, universal e de boa qualidade é o primeiro passo para tirar as crianças e os jovens da perigosa zona de exclusão. Mais do que um Dia da Consciência Negra, este 20 de novembro deve ser um Dia da Consciência Brasileira, no qual todos nós, louros, pretos, ruivos, de olhos azuis ou olhos puxados, de cabelos lisos ou encaracolados, estaremos unidos em torno de um só projeto: a construção de um país melhor.

Antoninho Marmo Trevisan, além de empresário, é educador e consultor, presidente da Trevisan Gestão, Consultoria e Educação e do Conselho Consultivo da BDO e, ainda, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista do Prof. Kabengele à Revista Forum

Nosso racismo é um crime perfeito
por Camila Souza Ramos e Glauco Faria

Fórum - O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?Kabengele - Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso.Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.Revista Fórum - Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo...Kabengele - Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.Revista Fórum - Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial? Kabengele - Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalidade. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendência. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afrodescendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.Fórum - Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?Kabengele - É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.E tem esse argumento legalista, "porque a cota é uma inconstitucionalidade, porque não há racismo no Brasil". Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito. Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível. Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. No artigo do professor Demétrio Magnoli, ele me critica, mas não leu nada. Nem uma linha de meus livros. Simplesmente pegou o livro da Eneida de Almeida dos Santos, Mulato, negro não-negro e branco não-branco que pediu para eu fazer uma introdução, e desta introdução de três páginas ele tirou algumas frases e, a partir dessas frases, me acusa de ser um charlatão acadêmico, de professar o racismo científico abandonado há mais de um século e fazer parte de um projeto de racialização oficial do Brasil. Nunca leu nada do que eu escrevi.A autora do livro é mestiça, psiquiatra e estuda a dificuldade que os mestiços entre branco e negro têm pra construir a sua identidade. Fiz a introdução mostrando que eles têm essa dificuldade justamente por causa de serem negros não-negros e brancos não-brancos. Isso prejudica o processo, mas no plano político, jurídico, eles não podem ficar ambivalentes. Eles têm que optar por uma identidade, têm que aceitar sua negritude, e não rejeitá-la. Com isso ele acha que eu estou professando a supressão dos mestiços no Brasil e que isso faz parte do projeto de racialização do brasileiro. Não tinha nada para me acusar, soube que estou defendendo as cotas, tirou três frases e fez a acusação dele no jornal.Fórum - O senhor toca na questão do imaginário da democracia racial, mas as pessoas são formadas para aceitarem esse mito...Kabengele - O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda.Quando você está diante do negro, dizem que tem que dizer que é moreno, porque se disser que é negro, ele vai se sentir ofendido. O que não quer dizer que ele não deve ser chamado de negro. Ele tem nome, tem identidade, mas quando se fala dele, pode dizer que é negro, não precisa branqueá-lo, torná-lo moreno. O brasileiro foi educado para se comportar assim, para não falar de corda na casa de enforcado. Quando você pega um brasileiro em flagrante de prática racista, ele não aceita, porque não foi educado para isso. Se fosse um americano, ele vai dizer: "Não vou alugar minha casa para um negro". No Brasil, vai dizer: "Olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar". Porque a educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser uma coisa explícita.Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: "você já discriminou alguém?". A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar... Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: "você que é complexado, o problema está na sua cabeça". Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.Revista Fórum - O humorista Danilo Gentilli escreveu no Twitter uma piada a respeito do King Kong, comparando com um jogador de futebol que saía com loiras. Houve uma reação grande e a continuação dos argumentos dele para se justificar vai ao encontro disso que o senhor está falando. Ele dizia que racista era quem acusava ele, e citava a questão do orgulho negro como algo de quem é racista.Kebengele - Faz parte desse imaginário. O que está por trás que está fazendo uma ilustração de King Kong, que ele compara a um jogador de futebol que vai casar com uma loira, é a ideia de alguém que ascende na vida e vai procurar sua loira. Mas qual é o problema desse jogador de futebol? São pessoas vítimas do racismo que acham que agora ascenderam na vida e, para mostrar isso, têm que ter uma loira que era proibida quando eram pobres? Pode até ser uma explicação. Mas essa loira não é uma pessoa humana que pode dizer não ou sim e foi obrigada a ir com o King Kong por causa de dinheiro? Pode ser, quantos casamentos não são por dinheiro na nossa sociedade? A velha burguesia só se casa dentro da velha burguesia. Mas sempre tem pessoas que desobedecem as normas da sociedade.Essas jovens brancas, loiras, também pulam a cerca de suas identidades pra casar com um negro jogador. Por que a corda só arrebenta do lado do jogador de futebol? No fundo, essas pessoas não querem que os negros casem com suas filhas. É uma forma de racismo. Estão praticando um preconceito que não respeita a vontade dessas mulheres nem essas pessoas que ascenderam na vida, numa sociedade onde o amor é algo sem fronteiras, e não teria tantos mestiços nessa sociedade. Com tudo o que aconteceu no campo de futebol com aquele jogador da Argentina que chamou o Grafite de macaco, com tudo o que acontece na Europa, esse humorista faz uma ilustração disso, ou é uma provocação ou quer reafirmar os preconceitos na nossa sociedade.Fórum - É que no caso, o Danilo Gentili ainda justificou sua piada com um argumento muito simplório: "por que eu posso chamar um gordo de baleia e um negro de macaco", como se fosse a mesma coisa.Kabengele - É interessante isso, porque tenho a impressão de que é um cara que não conhece a história e o orgulho negro tem uma história. São seres humanos que, pelo próprio processo de colonização, de escravidão, a essas pessoas foi negada sua humanidade. Para poder se recuperar, ele tem que assumir seu corpo como negro. Se olhar no espelho e se achar bonito ou se achar feio. É isso o orgulho negro. E faz parte do processo de se assumir como negro, assumir seu corpo que foi recusado. Se o humorista conhecesse isso, entenderia a história do orgulho negro. O branco não tem motivo para ter orgulho branco porque ele é vitorioso, está lá em cima. O outro que está lá em baixo que deve ter orgulho, que deve construir esse orgulho para poder se reerguer.Fórum - O senhor tocou no caso do Grafite com o Desábato, e recentemente tivemos, no jogo da Libertadores entre Cruzeiro e Grêmio, o caso de um jogador que teria sido chamado de macaco por outro atleta. Em geral, as pessoas – jornalistas que comentaram, a diretoria gremista – argumentavam que no campo de futebol você pode falar qualquer coisa, e que se as pessoas fossem se importar com isso, não teria como ter jogo de futebol. Como você vê esse tipo de situação?Kabengele - Isso é uma prova daquilo que falei, os brasileiros são educados para não assumir seus hábitos, seu racismo. Em outros países, não teria essa conversa de que no campo de futebol vale. O pessoal pune mesmo. Mas aqui, quando se trata do negro... Já ouviu caso contrário, de negro que chama branco de macaco? Quando aquele delegado prendeu o jogador argentino no caso do Grafite, todo mundo caiu em cima. Os técnicos, jornalistas, esportistas, todo mundo dizendo que é assim no futebol. Então a gente não pode educar o jogador de futebol, tudo é permitido? Quando há violência física, eles são punidos, mas isso aqui é uma violência também, uma violência simbólica. Por que a violência simbólica é aceita a violência física é punida?Fórum - Como o senhor vê hoje a aplicação da lei que determina a obrigatoriedade do ensino de cultura africana nas escolas? Os professores, de um modo geral, estão preparados para lidar com a questão racial?Kabengele - Essa lei já foi objeto de crítica das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.Mas essa questão do ensino da diversidade na escola não é propriedade do Brasil. Todos os países do mundo lidam com a questão da diversidade, do ensino da diversidade na escola, até os que não foram colonizadores, os nórdicos, com a vinda dos imigrantes, estão tratando da questão da diversidade na escola.O Brasil deveria tratar dessa questão com mais força, porque é um país que nasceu do encontro das culturas, das civilizações. Os europeus chegaram, a população indígena – dona da terra – os africanos, depois a última onda imigratória é dos asiáticos. Então tudo isso faz parte das raízes formadoras do Brasil que devem fazer parte da formação do cidadão. Ora, se a gente olhar nosso sistema educativo, percebemos que a história do negro, da África, das populações indígenas não fazia parte da educação do brasileiro.Nosso modelo de educação é eurocêntrico. Do ponto de vista da historiografia oficial, os portugueses chegaram na África, encontraram os africanos vendendo seus filhos, compraram e levaram para o Brasil. Não foi isso que aconteceu. A história da escravidão é uma história da violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África. Se se introduzir a história do outro de uma maneira positiva, isso ajuda.É por isso que a educação, a introdução da história dele no Brasil, faz parte desse processo de construção do orgulho negro. Ele tem que saber que foi trazido e aqui contribuiu com o seu trabalho, trabalho escravizado, para construir as bases da economia colonial brasileira. Além do mais, houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.Voltando a sua pergunta, as dificuldades são de duas ordens. Em primeiro lugar, os educadores não têm formação para ensinar a diversidade. Estudaram em escolas de educação eurocêntrica, onde não se ensinava a história do negro, não estudaram história da África, como vão passar isso aos alunos? Além do mais, a África é um continente, com centenas de culturas e civilizações. São 54 países oficialmente. A primeira coisa é formar os educadores, orientar por onde começou a cultura negra no Brasil, por onde começa essa história. Depois dessa formação, com certo conteúdo, material didático de boa qualidade, que nada tem a ver com a historiografia oficial, o processo pode funcionar.Fórum - Outra questão que se discute é sobre o negro nos espaços de poder. Não se veem negros como prefeitos, governadores. Como trabalhar contra isso?Kabengele - O que é um país democrático? Um país democrático, no meu ponto de vista, é um país que reflete a sua diversidade na estrutura de poder. Nela, você vê mulheres ocupando cargos de responsabilidade, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, assim como no setor privado. E ainda os índios, que são os grandes discriminados pela sociedade. Isso seria um país democrático. O fato de você olhar a estrutura de poder e ver poucos negros ou quase não ver negros, não ver mulheres, não ver índios, isso significa que há alguma coisa que não foi feita nesse país. Como construção da democracia, a representatividade da diversidade não existe na estrutura de poder. Por quê?Se você fizer um levantamento no campo jurídico, quantos desembargadores e juízes negros têm na sociedade brasileira? Se você for pras universidades públicas, quantos professores negros tem, começando por minha própria universidade? Esta universidade tem cerca de 5 mil professores. Quantos professores negros tem na USP? Nessa grande faculdade, que é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma das maiores da USP junto com a Politécnica, tenho certeza de que na minha faculdade fui o primeiro negro a entrar como professor. Desde que entrei no Departamento de Antropologia, não entrou outro. Daqui três anos vou me aposentar. O professor Milton Santos, que era um grande professor, quase Nobel da Geografia, entrou no departamento, veio do exterior e eu já estava aqui. Em toda a USP, não sou capaz de passar de dez pessoas conhecidas. Pode ter mais, mas não chega a 50, exagerando. Se você for para as grandes universidades americanas, Harvard, Princeton, Standford, você vai encontrar mais negros professores do que no Brasil. Lá eles são mais racistas, ou eram mais racistas, mas como explicar tudo isso?120 anos de abolição. Por que não houve uma certa mobilidade social para os negros chegarem lá? Há duas explicações: ou você diz que ele é geneticamente menos inteligente, o que seria uma explicação racista, ou encontra explicação na sociedade. Quer dizer que se bloqueou a sua mobilidade. E isso passa por questão de preconceito, de discriminação racial. Não há como explicar isso. Se você entender que os imigrantes japoneses chegaram, nós comemoramos 100 anos recentemente da sua vinda, eles tiveram uma certa mobilidade. Os coreanos também ocupam um lugar na sociedade. Mas os negros já estão a 120 anos da abolição. Então tem uma explicação. Daí a necessidade de se mudar o quadro. Ou nós mantemos o quadro, porque se não mudamos estamos racializando o Brasil, ou a gente mantém a situação para mostrar que não somos racistas. Porque a explicação é essa, se mexer, somos racistas e estamos racializando. Então vamos deixar as coisas do jeito que estão. Esse é o dilema da sociedade.Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?Kabengele - A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou. Revista Fórum

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

PLANSEQ Afro-descendentes Edital Licitação

Boas Novas!!

Companheiras e Companheiros,
Com muita alegria, comunico a todos vocês que o edital de licitação do PLANSEQE para profissionais afro-descendentes foi publicado no dia 6 de novembro de 2009. Tenhamos em mente que este é um momento histórico na luta do Negro brasileiro, quando, pela primeira vez, um programa do governo, de tamanha envergadura, atinge e beneficia, de maneira direta, 25 mil de nossos profissionais. Após quase dois anos de muito trabalho, conversas, acordos, parcerias, veremos coroados nossos esforços de transformação da vida dessas pessoas, e do caminhar em direção à Abolição de Fato! Agradecemos ao Ministro Carlos Lupi e a toda sua equipe do Ministério de Trabalho e Emprego, e destacamos a competência e o denodo de nosso mineiro Anderson Brito, e também de Iron Müller, responsáveis dentro da Comissão de Concertação, pela elaboração do projeto final do PLANSEQ, e da conquista de muitos de nossos parceiros do empresariado. Eu, pessoalmente, agradeço a todos pela força da esperança que nos levou, desde o Congresso da Secretaria Nacional do Movimento Negro, em janeiro de 2008, ao planejamento objetivo e correto para a realização de nossos sonhos. Para conhecimento, também confirmo a entrega ao Ministro Carlos Lupi, no último dia 28 de outubro, do Projeto Caixa d’Água, de autoria do Dr. Ubiratan Nogueira, Engenheiro de Meio Ambiente, que aceitou nossa idéia de levar água potável aos mais de 5.000 quilombos remanescentes, ou seja, levar aos quilombolas mais saúde, e melhores condições de vida, incluindo facilidades para o trabalho e renda, seja através da agricultura, seja através do artesanato. O Ministro, ciente da importância de semelhante proposta, aceitou ser o padrinho do projeto, para conquistar a parceria de outros ministérios e empresas públicas. Aguardamos ainda, para breve, a data da Audiência Pública para o PLANSEQ da Copa, proposta do Companheiro Aurélio Augusto do Mato Grosso, atual Secretário Municipal de Cidadania e Esporte de Cuiabá, cujo projeto final também contou com a dedicação de Iron Müller e Anderson Brito. Para encerrar com chave de ouro o ano de 2009, teremos a Conferência Abolição de Fato!, nos dias 4, 5 e 6 de dezembro próximo, em Brasília. A batalha da execução do nosso PLANSEQ, de maneira correta, dentro da ética e do cuidado com a “coisa pública”, dependerá do esforço de cada um de nós. Mais uma vez agradeço, e envio a todos vocês minhas saudações quilombolas e brizolistas,

Edialeda Salgado do Nascimento
Presidente da Secretaria Nacional do Movimento
Negro PDT

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Brizola sempre teve razão!

A carta abaixo, assinada pelo Vereador Leonel Brizola Neto, endereçada à jornalista Hildegard Angel, do Jornal do Brasil, agradece as palavras de Hilde, sobre as assertivas de Leonel Brizola,
quanto à necessidade de haver um efetivo controle das fronteiras brasileiras, pelas nossas forças armadas, e pela Polícia Federal, para coibir a entrada de armamentos e de drogas nos limites territoriais, seja do Brasil, seja do Estado do Rio de Janeiro. À época, as palavras de Brizola foram contestadas pela mídia, e pelo atual (des)governador Sérgio Cabral, o responsável pelo genocídio dos jovens negros e pobres, e pelo assassinato de pessoas de todas as idades, moradores das favelas e comunidades mais pobres do estado, através da pena de morte, “quase” oficial no seu (desgoverno).Certamente, se os 506 CIEPs construídos por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, estivessem com seu pleno funcionamento preservado, segundo o modelo ideal de escola integral e integrada, pois as dependências escolares eram usadas durante todo o dia, e a noite abrigavam cursos de alfabetização, e de educação de adultos, além das quadras esportivas, gabinetes médicos e odontológicos, serem partilhadas pela comunidade do entorno, certamente, reafirmo, nossos jovens teriam direito ao estabelecido na Constituição Brasileira. O modelo de escola, idealizado pelo Prof. Anísio Teixeira, e amplamente desenvolvido no Rio de Janeiro, sofreu as maiores críticas de partidos de esquerda, que agora apóiam a política de extermínio, e não de educação, deste (des)governante. Quantas escolas foram construídas após os CIEPs? Em respeito e solidariedade a Leonel Brizola, apoiamos a carta do Vereador da Cidade do Rio de Janeiro, e a publicamos em nosso blog, para que mais pessoas possam conhecê-la. Saudações quilombolas e brizolistas,
Edialeda Salgado do Nascimento


Cara Hilde,
Fiquei comovido com sua nota de ontem, lembrando a perseguição que meu avô, Leonel Brizola, sofreu por suas posições avançadas para a época, especialmente nas área de Segurança e Educação.Quando foi governador, Brizola alertou, juntamente com seu vice, Nilo Batista, que o Rio não produzia drogas (naquela época), muito menos armamentos, e que a Polícia Federal tinha obrigação de vigiar as fronteiras, pois a ineficiência na esfera federal trazia um grande problema de segurança pública para o Rio de Janeiro.A falta de ética profissional de certos setores da imprensa, mencionada corretamente por você, ainda persiste, pois é um absurdo que não haja um mea culpa, uma autocrítica, uma referência sequer a este fato, tão comentado na ocasião, e que agora é constatado pelo Secretário Beltrame, que não pode ser “acusado” de ser Brizolista.A falta de ética persiste também quando os mesmos órgãos de imprensa que se dizem democráticos gastam páginas e páginas exaltando a Educação Integral de outros países, sem citar uma única vez o projeto original e avançado dos CIEPs, idealizados pelo grande professor Darcy Ribeiro e por meu avô, com a colaboração arquitetônica genial de Oscar Niemeyer. A missão dos CIEPs era resgatar os excluídos, em especial, as crianças e jovens, tornando-os cidadãos plenos, com saúde, cultura e auto-estima. Brizola compreendeu que era a escola que tinha que ir para a periferia, e não o contrário. Esperançoso com a mudança que surgiria a partir daí, meu avô dizia: “cada CIEP que se abre é uma cadeia que se fecha”. E Darcy, visionário, afirmava: “precisamos fazer isso agora, senão, daqui há 20 anos vamos ter medo de criança !”.
Por isso, Hilde, agradeço a sua citação oportuna, para não deixar cair no esquecimento o fato de que se não fosse a campanha preconceituosa e contínua contra qualquer política ou manifestação pública feitas por meu avô Leonel Brizola, poderíamos ter evitado que a situação chegasse ao ponto que chegou. Enquanto faziam de Brizola o “bode expiatório” de todos os males, os “senhores das armas e das guerras” prosperavam à vontade com o crescente tráfico de armas através de nossas fronteiras. Mas a memória é uma arma pacífica, e a única eficaz contra a repetição dos erros e injustiças. Não podemos esquecer os tantos que lutaram verdadeiramente pela democracia neste país, entre os quais se incluem Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, sua mãe Zuzu Angel e seu irmão Stuart Edgar Angel Jones.
Cordialmente,Leonel Brizola Neto
Vereador PDT-RJ

sábado, 24 de outubro de 2009

FEBRABAN E DISCRIMINAÇÃO RACIAL

FEBRABAN CONFESSA DISCRIMINAÇÃO DE NEGROS NOS BANCOS
Por: Redação - Fonte: Afropress - 17/10/2009
S. Paulo - Acusados pelo Ministério Público Federal do Trabalho da prática de racismo, os principais bancos brasileiros, por intermédio da poderosa Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), admitem no Censo realizado como parte do Mapa da Diversidade que, embora a escolaridade entre negros e brancos sejam equivalentes nos níveis superior e pós - 83% e 83,6% , respectivamente -, funcionários negros recebem apenas 64,2% dos brancos e os pardos 67,6%. A informação equivale a uma confissão da prática de discriminação contra negros na política de recrutamento de pessoal.
O Mapa tem sido utilizado como instrumento de marketing e já foi apresentado em duas audiências públicas, na Câmara e no Senado, para uma platéia seleta de negros, entre os quais, o Frei David Raimundo dos Santos, da Rede Educafro, e Maria Aparecida Bento, do Centro de Estudos das Relações do Trablaho e Desigualdades (CEERT), a consultoria contratada pela Febraban para fazer o estudo.
Ação e impunidade
Nos Estados Unidos, esta semana, o procurador Andrew Cuomo, de Nova York, abriu processo em que cobra US$ 4 milhões de seis empresas de construção acusadas de usar critérios de cor, raça ou país de origem para definir o valor dos pagamentos de seus funcionários. Pela tabela usada pelo dono das empresas, Michael Mahoney, funcionários brancos de origem irlandesa recebiam em média US$ 25 por hora, os negros ganhavam US$ 18, e brasileiros e latinos em geral, US$ 15 pelas mesmas funções.
Afropress pede, desde julho, uma entrevista com o presidente da Febraban, o banqueiro Fábio Barbosa (foto), do Santander. Sua assessoria passou três meses para responder a um e-mail com pedido de entrevistas e, no último contato, mandou os dados com a apresentação do Mapa da Diversidade. Nem a Febraban nem o CEERT informam o valor do contrato para elaboração do Mapa da Diversidade.
Confissão Os dados do Censo envolvendo 204 mil funcionários em todo o país em instituições como Itaú/Unibanco, Santander Brasil, Banco do Brasil, BIC, Bradesco, Caixa Econômica Federal e HSBC, revelam que um homem negro recebe R$ 2.870,00, enquanto um funcionário branco recebe R$ 3.411,00 para a mesma função.
Um dado que reforça a confissão é que a presença de negros na População Economicamente Ativa (PEA) é de 17%, enquanto nos bancos é de apenas 11%. Em S. Paulo, o maior centro financeiro do país, a presença negra é de 12% na população economicamente ativa, enquanto nos bancos é de 7%.
No caso das mulheres negras a política discriminatória é ainda mais escancarada: enquanto na população economicamente ativa as mulheres representam 18%, no setor bancário é de apenas 8%. Em S. Paulo, a presença de mulheres nos bancos é de 6% contra 11% na população economicamente ativa. Na distribuição de cargos, o estudo do Mapa da Febraban expõe a discriminação sem retoques: a presença negra em cargos da Diretoria e Superintendência é de apenas 4,8%, contra 91,6% dos brancos; na gerência, 14,9% dos cargos são ocupados por negros, contra 81,7% de cargos de brancos; na Supervisão, chefia e Coordenação, apenas 17% são negros contra 79,8% de brancos. Entre os trabalhadores funcionais, 20,6% são negros contra 75,7% de brancos.
Maquiagem Apesar da política de discriminação escancarada - não contestada pelas lideranças que tem participado de tais audiências da Febraban - os bancos não informam que providências pretendem adotar nem quando porão fim a política de discriminação.
No Mapa, por recomendação do CEERT, são propostas medidas de alcance retórico, como mobilizar, sensibilizar e engajar;definir indicadores para gestão; ampliar alcance do recrutamento e seleção;acelerar contratação;envolver outros públicos. Cada uma das ações se desdobra em medidas que vão de encontro de executivos do setor, a busca de parcerias, passando pela divulgação de vagas e treinamento de equipes e parceiros.
*****

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Saudação aos Congressistas da Secretaria Regional do Movimento Negro PDT RJ

Washington, 25 de setembro de 2009

Sr. Presidente Luiz Eduardo,
Companheiras e Companheiros,

Tenho o prazer de saudar aos Congressistas, e parabenizar a Secretaria Regional do Movimento Negro do PDT do Rio de Janeiro, pela realização deste 20 congresso.
Há exatamente 30 anos, na Carta de Lisboa, pela primeira vez, um partido político reconheceu e valorizou a importância do Povo Negro na construção da Cultura e da riqueza econômica do Brasil.
Também em 1970, Leonel Brizola voltou de 15 anos de exílio, e trouxe consigo um mar de esperança no restabelecimento da democracia, após um longo inverno ditatorial. A presença de Brizola com o PDT, na vida política nacional, restabeleceu os princípios trabalhistas de Getulio Vargas, João Goulart, o nosso Jango, e Alberto Pasqualini. Valeu Brizola!!!
Também valeu a presença entre nós de Abdias Nascimento, cuja persistência na luta contra o racismo, o preconceito e a discriminação racial, ajudou ao PDT, como um todo, a conhecer e a respeitar os afro-descendentes. Axé Abdias!!!
Gostaria de fazer público o agradecimento ao nosso Presidente Nacional, licenciado, Ministro Carlos Lupi, pelo apoio e pela parceria com a Secretaria Nacional do Movimento Negro, através de ações concretas, dentre elas o Plano Setorial de Qualificação - PLANSEQ - para profissionais afro-descendentes, que, já em fase de licitação pública, irá qualificar e facilitar a empregabilidade de cerca de 25 mil pessoas, em 2009.
Também queremos saudar ao companheiro Secretário-Geral, Dr. Manoel Dias, no seu denodo em estar junto às direções regionais de todo o país, organizando e motivando militantes e dirigentes.
Agradecemos aos companheiros Marcelo Panella e Prof. Loureiro, outros parceiros, respeitosos com a nossa gente.
Na direção regional do Rio de Janeiro, agradecemos especialmente aos companheiros, Jose Bonifácio, Presidente em exercício e Carlos Correia, Secretário-Geral. E mais reconhecimento à parceria de nossa Elma Cerqueira Fuentes, e do querido companheiro Jornalista Osvaldo Maneschy, Presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini.
Tivemos, e temos grandes lideranças na Secretaria do Movimento Negro do PDT, mas é justo destacar alguns dos já falecidos:
Deputado José Miguel, autor dos projetos de lei da criação do monumento a Zumbi de Palmares, o primeiro erguido em todo o Brasil, e da criação da Quinzena de Cultura Negra.
Airton de Oliveira, grande e inesquecível companheiro de todas as horas, brizolista fervoroso.
Hemetério dos Santos e Olímpio dos Santos, dois comunistas, que se dedicaram conosco a defesa do trabalhismo.
Wanderley de Souza, que desde o Aeroporto do Galeão, onde recebemos Leonel Brizola (junto ao getulista, janguista, brizolista, trabalhista, Jose Colagrossi Filho), trabalhou arduamente pela criação do PTB, depois PDT, e perguntava, já em 1979: Onde está o Negro na política? Onde está o Negro Embaixador, General de Exercito, Almirante, Brigadeiro? Onde está o Negro nos Tribunais Superiores? Wanderley, meu amigo de infância, lá do Cachambi, transformou minha mente de sindicalista, em ativista do Movimento Negro, ao caminharmos juntos por várias sendas na criação do nosso partido, e nas eleições para o governo do Estado do Rio de Janeiro.
Engenheiro Manoel Cabral de Queiroz, baiano de Feira de Santana e de Duque de Caxias, onde foi Secretário de Planejamento.
Seu Arlindo Torres, incansável em todas as campanhas do PDT, desde 1986.
Companheiras e Companheiros, os movimentos do PDT: Negro, Juventude, Mulheres, Aposentados, Sindical, somente terão justificadas suas existências, se integrados aos movimentos sociais não partidários. Quando vocês ali estiverem, não tenham medo ou vergonha de declarar sua filiação partidária, ao contrário, tenham orgulho de proclamar que estão nas fileiras de um partido que ousa dizer NÃO ao capitalismo, e ao “entreguismo” de nossas riquezas; de Vargas a Carlos Lupi, passando por Jango e Brizola, a defesa dos interesses dos trabalhadores e da soberania nacional são as nossas bandeiras.
A Secretaria Nacional do Movimento Negro do PDT não aplaude o açodamento na aprovação recente, pela Câmara dos Deputados, de dois projetos:
- Estatuto da Igualdade Racial, que, em verdade, não beneficia os afro-descendentes em sua totalidade, vide o capitulo referente aos Quilombolas, e deixa, por esse motivo, muito a desejar.
- Reforma Eleitoral, que além de outros, apresenta três pontos mais do que discutíveis:
* A não obrigatoriedade do voto impresso, para as eleições de 2010, mesmo que fosse apenas de um pequeno percentual, em forma de amostragem. Sabemos que este foi um dos pontos de luta de Leonel Brizola com o STE, porque, por duas vezes, foi lesado, ou quase, com este sistema de urnas eletrônicas sem comprovantes de votos. Na primeira vez, na eleição de 1982, para governador do Estado do Rio de Janeiro, através do chamado Esquema Proconsult, montado especialmente para impedir sua vitória, esquema o qual Brizola denunciou à imprensa internacional, e abortou o processo. Na segunda vez, na primeira eleição presidencial, de 1989, a parada por um dia, da contagem de votos no Estado de Minas Gerais, certamente fraudou o acesso de Brizola ao segundo turno da eleição E vimos no que deu, a fácil vitória do falso caçador de marajás, Fernando Collor de Mello. E temos sérias dúvidas, se, em outras eleições, Brizola e os candidatos do PDT também não foram prejudicados.
* A não inclusão do financiamento publico das campanhas eleitorais, o que vai facilitar mais uma vez, a eleição de candidatos/candidatas, muitas vezes imorais ou amorais, detentores de amplos recursos financeiros, em detrimento de melhores candidatos e candidatas, sem tantos recursos.
* E terceiro ponto, mas não menos importante, é a não citação de qualquer obrigatoriedade quanto ao uso de recursos dos fundos partidários em beneficio dos movimentos negros de todos os partidos, e nenhuma citação ao apoio de candidaturas de negros e negras.
Em 2010, teremos a segunda eleição presidencial sem Leonel Brizola, e teremos de fazer um grande esforço para eleger negros e negras às varias casas legislativas, e mesmo aos governos de alguns estados.
A Secretaria Nacional do Movimento Negro do PDT apóia o lançamento de candidaturas próprias do PDT, a começar por uma candidatura à Presidência da República. Será o momento oportuno para fazermos visíveis, a todo o país, durante o horário eleitoral, nosso compromisso com a ética em relação à coisa pública, os ideais, as propostas de governo, e as realizações do PDT quando está no poder. Seria pedir muito ao partido, deixar de fazer ouvir sua voz, neste momento de crise nacional e mundial.
Companheiras e Companheiros, sabemos que as Mães de Santos, as Yalorixás, nos seus numerosos Ilês, tem sido, por séculos, as depositárias e as transmissoras dos conhecimentos das religiões de matriz Africana. Quero pedir a todos e a todas, um momento de homenagem a Ialorixá baiana, Mãe Hilda, recentemente falecida. Estivemos muitas vezes com Mãe Hilda, em diversas situações, mas a lembrança maior que tenho é de Mae Hilda, nos seus trajes ancestrais, com muitos de nós, e lá estavam Abdias do Nascimento, José Miguel, Airton de Oliveira, Maria Alice Santos, Creuzely Ferreira, Maria Christina Ramos, Marcos Romão, Januário Garcia, Lélia Gonzalez, Wanda Cambraia, subindo, a pé, a Serra da Barriga, em direção ao topo do Quilombo de Palmares, ainda no tempo da reivindicação do reconhecimento daquele espaço como um Monumento Nacional. Conseguimos! Axé Mae Hilda!!!
A todos vocês, deixo minhas saudações quilombolas e brizolistas, e um poema que fiz, em Salvador, no dia da morte de Mãe Menininha do Gantois, que pode perfeitamente homenagear Mãe Hilda,

Edialeda Salgado do Nascimento
Presidente da Secretaria Nacional do Movimento Negro



Homenagem a Mãe Menininha do Gantois

Edialeda



São Salvador, Bahia !
Uma nação negra,
na cara do povo,
chorando a morte
de sua Mãe Menininha!
Símbolo da força
da religião dos Orixás,
que resistindo à opressão,
à repressão, à violência,
por séculos e séculos,
manteve acesa a fé
em nossos Deuses Africanos.
Laroyê !!!
Ore Yèyè O !!!
Epa Heyi Oya !!!
Odó Iya !!!
Aoboboi !!!
Atotô !!!
Epa Baba !!!

São Salvador, Bahia, 14.VIII.86
Dia da morte de Mãe Menininha do Gantois

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Opiniões dos companheiros da Bahia, Educação Redentora

A HORA DA EDUCAÇÃO REDENTORA

A herança brizolista que construiu caminhos sólidos para a organização de um Estado que tenha princípios democráticos, cidadãos e pluriétnicos é imprescindível para a efetiva inclusão social do nosso povo.
A compreensão deste momento nos faz apoiar o líder que mais está se destacando em favor da educação no Estado da Bahia. A sua atuação anterior com o FUNDEB/FUNDEF e o piso salarial da educação, resgatando o ideário do baiano Anísio Teixeira, e dando continuidade ao trabalho de Darcy Ribeiro é hoje o principal patrimônio para o futuro do Nordeste e do Brasil.
Em princípio, só a transferência do deputado Severiano Alves da comissão de Educação para a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional credencia o líder trabalhista baiano como um dos mais novos potenciais estadistas do Brasil e da América Latina.
O PDT entre os partidos respeitados pela população brasileira é um dos poucos que consegue priorizar no seu dia-a-dia: a reparação, o desenvolvimento econômico sustentável e a educação , como pilares, na construção de uma nação mais digna para todos os brasileiros, bandeiras defendidas e respeitadas por Alberto Pasqualini, Leonel Brizola, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e por esta nossa liderança baiana.
Com a concretização do rompimento da aliança do PMDB e PT houve uma radical mudança de paradigma na Bahia. A anterior hegemonia estadual de ambos os partidos começa a ser colocada em xeque pela população, podendo propiciar o perigoso retorno do carlismo.
Preocupados com este possível retrocesso os membros do Movimento Democracia Trabalhista do Nordeste tem o dever de tentar barrar o retorno das forças anti-populares.
Neste momento entendemos como prioritário lançar a candidatura do deputado federal Severiano Alves para Governador do Estado da Bahia, como forma de deter o possível retorno ao passado e assim darmos continuidade a defesa das bandeiras trabalhistas, atendendo os apelos da população para a construção de um futuro melhor para todo o povo baiano.
A HORA DA EDUCAÇÃO REDENTORA JÁ CHEGOU
CANDIDATURA PRÓPRIA DO PDT PARA GOVERNADOR DA BAHIA
Movimento Democracia Trabalhista do Nordeste:Feliciano Tavares Monteiro/Osvaldino Vieira de Santana/Sandro dos Santos Correia.

Salvador, 11 de Agosto de 2009.

Artigo de Jackson Lago

Pernas curtas
A oligarquia reinstalada no governo estadual tem insistido nas afirmações de que meu governo deixou o Estado "financeiramente quebrado" e promoveu uma "irresponsabilidade fiscal inédita no País". Nada mais falso.
Mesmo assumindo após um mês de minha deposição por um golpe judicial, o atual secretário de Planejamento deve saber que deixei 383 milhões de reais nos cofres do Estado. Mais que isso, a administração da senhora Roseana Sarney Murad encontrou um Estado com suas contas religiosamente pagas.
Pagamento de pessoal? Em dia. Dívida pública? Mesmo sem ter aumentado em um centavo essa dívida (toda ela contraída pelas administrações da oligarquia, em especial pela hoje governante), entendo que o compromisso é do Estado e, por isso, honrei esses pagamentos. Pagamento de precatórios? Todos absolutamente em dia. Empreiteiros e fornecedores? Não há qualquer reclamação nesse sentido, pois obras realizadas e serviços prestados devidamente atestados foram pagos. Transferências constitucionais aos municípios? Todas feitas. E, ainda mais, meu governo fez transferências voluntárias com a maioria dos municípios, através de convênios em diversas áreas, recursos estes que foram subtraídos às municipalidades pela administração dos que hoje me acusam.
Minha administração, no entanto, não se preocupou somente com o equilíbrio orçamentário e fiscal. À frente do governo, procurei diminuir a imensa dívida social para com nosso povo, que vem de séculos, mas que foi extremamente agravada pelos 40 anos de poder do grupo oligárquico
Cito algumas iniciativas que estavam modificando a face do Maranhão. Meu governo construiu 160 novas escolas e reformou 310. Nelas foram instalados 291 laboratórios de Matemática, 120 de Ciências, 794 de Informática, além de 355 bibliotecas. Em dois anos e três meses, em parceria com o governo federal, tiramos do analfabetismo 50 mil jovens, adultos e idosos.
A Saúde teve um extraordinário avanço em sua descentralização com a inauguração do Socorrão de Presidente Dutra, com cem leitos e atendimento a uma população de mais de 330 mil pessoas. Transferi recursos para a construção dos Socorrões regionais de Imperatriz e de Pinheiro, recursos estes que foram garfados pela administração de minha ilegítima sucessora. Quatro centros de reabilitação física, destinados a portadores de necessidade especial ou pessoas com recomendação de fazerem fisioterapia foram inaugurados em Imperatriz, Caxias, Bacabal e Grajaú.
Na área de infraestrutura, meu governo trabalhou em parceria com os municípios, delegando a eles até mesmo obras de competência estadual, na visão de que a fiscalização e o controle social são exercidos com mais eficácia quando se trabalha dessa forma, além de termos obras mais baratas. Dessa forma, foi possível fazer mais de mil quilômetros de estradas estaduais asfaltadas, recuperar quase 6 mil quilômetros de estradas vicinais e pavimentar 1.300 quilômetros de vias urbanas.
A Baixada Maranhense recebeu asfalto e sinalização em sua principal via de acesso, a MA-014, que com 166 quilômetros de extensão beneficia municípios como Vitória do Mearim, Viana, São Bento e Pinheiro, facilitando ainda o acesso a dezenas de outros municípios. A MA-262 tirou do isolamento toda a região de Matões e Parnarama. Enquanto a MA-209, entre Nova Bacabeira e Turiaçu, atendeu uma reivindicação mais que secular. A ponte da Liberdade, que liga o Maranhão com o Norte do Tocantins, consolida o papel de Imperatriz como centro econômico, administrativo e cultural de toda uma imensa região dos dois Estados.
Poderia me estender aqui, citando outras realizações nas áreas já citadas e em outras a que não me referi. Mas, o espaço que disponho não me permite. Mas, essas poucas linhas são o bastante para mostrar a falta de compromisso com a verdade daqueles que atiram pedras em meu governo. Apesar do monopólio que eles exercem sobre os meios de comunicação, a população pode, agora, fazer comparação entre dois diferentes estilos de governar. E, comparando, pode escolher entre eles.

Jackson Lago

sábado, 8 de agosto de 2009

Ainda há tempo!

Ainda há tempo!

Mais uma vez assistimos aos desvarios de uma república onde não existem republicanos, mas sim capitães hereditários (ou melhor, que assim se julgam), levando o país para o abismo da falta de ética na política, para vergonha dos brasileiros, políticos, ou não, mas compromissados com as reais necessidades da nação e do seu povo.
O que perdeu o Brasil, ao não conseguirmos eleger Leonel Brizola para a Presidência da República, jamais será recuperado, vide os jovens entregues ao tráfico, o elevado percentual de analfabetos e de analfabetos funcionais, o assassinato pelas chamadas forças da ordem, de milhares de jovens, quase sempre negros, a cada ano. Vide a não realização da Reforma Agrária, a não regulamentação da remessa de lucros, e a venda para exportação a preços vis dos chamados produtos primários, as commodities ou o sucateamento das empresas realmente nacionais, e a sua entrega às multinacionais.
A falência do capitalismo atingiu sobretudo aos países mais pobres, exatamente aqueles que nunca tiveram o poder de controlar o sistema.
Contudo, ainda há tempo, de tentarmos salvar algo do que resta para as futuras gerações.
O PDT, na pessoa do seu presidente licenciado, Ministro Carlos Lupi, no comando do Ministério do Trabalho e Emprego, tem mantido a luta pelos direitos dos trabalhadores conquistados na Era Vargas, e as posições firmes de Carlos Lupi nesta direção, incomodaram e ainda incomodam àqueles cujo compromisso é com os interesses pecuniários e de poder, que começam e terminam no aumento de seus lucros, não importando o quanto isso signifique para a degradação dos sistemas de atendimento à saúde e de transportes públicos, da falta de habitações dignas, da falta de saneamento básico, da falta de creches e de escolas.
Quando assistimos o presidente da Federação das Industrias do Estado de São Paulo – FIESP, Sr. Paulo Antonio Skaf, e a Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Senadora Kátia Abreu, tentando colocar os meios de comunicação e a população menos informada, contra o Ministro Carlos Lupi, lembramos a guerra movida contra Leonel Brizola, Governador do Rio Grande do Sul, que encampou as gigantescas empresas norte-americanas ITT e Bond & Share , que se recusavam a fazer investimentos para possibilitar o crescimento econômico daquele grande estado brasileiro. Sabemos ainda mais, que os governos e empresários americanos jamais perdoaram a Leonel Brizola, e atuaram, com apoio de alguns apátridas, embora nascidos no Brasil, para a não eleição de Brizola à Presidência da República.
O PDT trabalha e se organiza para eleger em 2010 uma numerosa bancada de deputados federais, que como dizia Brizola, tenham a cruz na testa, ou seja, depois de eleitos, serão no Congresso a voz da população brasileira e defensores de um Brasil que pertença de fato ao seu Povo.
Em 2006 o PDT lançou como candidato à Presidência da República o honrado e competente Senador Cristovam Buarque, ex-Reitor da Universidade de Brasília e ex-Governador do Distrito Federal. Pode ser pedir muito a Cristovam que renuncie a uma reeleição provável em 2010, mas seria pedir muito mais ao nosso partido deixar de apresentar um nome capaz de mobilizar, em primeiro lugar todo o PDT, e também grande parte dos eleitores que já estão enojados das crises, como a atual, no Senado Federal, cujo centro é José Sarney, pai de Roseana Sarney, que trabalhou junto ao Poder Judiciário para usurpar o lugar do Governador Jackson Lago , legitimamente eleito pelo povo do Maranhão, para entregá-lo à filha, cujos crimes eleitorais foram ignorados pelos magistrados.
Ainda é tempo de, ao lançar o Prof. Cristovam Buarque como candidato à Presidência da República para a eleição de 2010, ter o PDT a oportunidade de levantar o país em uma campanha que defenda a ética e a competência políticas, a construção de milhares de escolas públicas, que, seguindo o exemplo das agências do Banco do Brasil, tenham como padrão uma construção compatível com as necessidades de educação integral e integrada para nossas crianças. Uma escola que, segundo o Prof. Darcy Ribeiro, ensine aos nossos jovens a ler, a escrever e a pensar.
O Brasil merece ter um presidente da república que defenda a Amazônia contra as investidas de transformá-la em posse de toda a Humanidade, que não apóie as políticas de extermínio da população jovem, negra e pobre, nas favelas e nas periferias, e que se empenhe em criar mecanismos de transformações de nossas commodities em produtos industrializados, e também que prestigie nossos cientistas no desenvolvimento de suas pesquisas, porque sabemos que aqueles que detêm o Saber detêm o Poder.
Ainda é tempo, basta refletirmos, discutirmos e provar que o PDT é um partido que segue os ideais de Getúlio Vargas, de João Goulart, de Alberto Pasqualini, de Darcy Ribeiro, de Leonel Brizola, que reconhece as diferenças de tempo, mas conhece a atualidade das carências da nação brasileira.

Rio de Janeiro, 8 de agosto de 2009
Edialeda Salgado do Nascimento