domingo, 23 de novembro de 2008

País se vê menos branco e mais pardo

Demografia e valorização crescente da identidade de cor ajudam a explicar crescimento de pretos e pardos entre 1995 e 2008
ANTÔNIO GOIS
SUCURSAL Folha de São Paulo do RJ
A imagem do Brasil como um país de maioria branca não se sustenta mais nas estatísticas.Há 13 anos, quando o Datafolha fez a sua primeira grande pesquisa sobre o tema, metade dos entrevistados se definiram como brancos. Hoje, são 37%, percentual próximo ao dos autodeclarados pardos (36%). Os que se classificam como pretos representam 14% da população com 16 anos ou mais, de acordo com o levantamento.Este movimento é coerente com o detectado pelas pesquisas do IBGE: em 2007, pela primeira vez na história, a soma de pretos e pardos superou a de brancos no total da população.Duas razões principais explicam o crescimento dos autodeclarados pretos e pardos.A primeira é demográfica. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, organizado pelos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano, mostra que, em 1995, o número médio de filhos de mulheres pretas e pardas era 3,0. Entre brancas, a taxa era de 2,2.Dez anos depois, a diferença caiu, mas as mulheres pretas e pardas seguem tendo, em média, mais filhos (2,3 ante 1,9).No entanto, como a definição de cor ou raça pelo IBGE é autodeclaratória (é o entrevistado quem escolhe entre cinco opções fornecidas), outra razão apontada por especialistas para esse aumento é que pessoas que antes se identificavam como brancas deixaram de se classificar assim.No relatório de Paixão e Carvano, comparou-se a geração que, em 1995, tinha de 10 a 29 anos, e, em 2005, tinha de 20 a 39 anos. Mesmo nesse grupo -em tese, a mesma população dez anos depois- foi verificado aumento de pretos e pardos.Para o sociólogo José Luiz Petrucelli, do IBGE, contribuiu para esse aumento o que ele chama de processo de revalorização identitária. "O que antes não entrava nos padrões de beleza ou prestígio e era desvalorizado hoje mudou para se constituir em referência, até para poder usufruir de vantagens relativas", diz, referindo-se, por exemplo, a ações afirmativas que passaram a dar benefícios a pretos e pardos no acesso ao ensino superior.Além de investigar como a população se classifica pelo critério do IBGE (branco, preto, pardo, amarelo ou indígena), o Datafolha perguntou como os brasileiros definiriam sua cor de forma espontânea, ou seja, sem restringir a resposta a essas cinco opções.O resultado foi que, apesar do crescimento na proporção dos brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos, outros termos, como moreno e negro, são mais utilizados de forma espontânea. A soma das respostas moreno, moreno claro e moreno escuro, por exemplo, chega a 33%, quase o dobro dos 17% que se definiram como pardos espontaneamente.O termo negro, não utilizado pelo IBGE, representou 7% das respostas espontâneas, percentual superior aos 4% que se declararam pretos dessa maneira.É essa a resposta que é dada pela operadora de telemarketing Érika Nascimento de Paula, 29, que aparece na capa deste caderno. Questionada sobre a sua cor pela reportagem, disse: "Sou negra". Quando apresentada às opções do IBGE, disse ser "preta"."Há negros que têm preconceito com a própria cor e dão outras respostas", diz, justificando as afirmações taxativas.Até mesmo quando o Datafolha fez a pergunta sobre cor limitando as respostas às cinco definições utilizadas pelo IBGE, houve quem não aceitasse ter que escolher apenas entre elas. Mesmo a opção não constando desta pergunta do questionário, 4% insistiram e se declararam morenos.MudançasA dificuldade de classificar a população segundo as definições do IBGE vem sendo discutida internamente no instituto, que, neste ano, está elaborando mais um estudo para subsidiar propostas. Um dos desafios é substituir o termo pardo, que, tradicionalmente, representaria tanto descendentes de pretos com brancos quanto de brancos com índios.Petrucelli, do IBGE, defende mudanças, mas diz que o tema precisa ser tratado com cuidado. Ele afirma que qualquer alteração, se acontecer, será discutida com a sociedade e feita de forma a permitir comparações com pesquisas anteriores."Minha posição pessoal é que precisamos aprimorar esse critério, pois é muito rígido e não dá conta da diversidade de identidades dos brasileiros."Não é a primeira vez que o IBGE tenta mudar. Antes do Censo de 2000, foi feito um teste com opções de respostas espontâneas. O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do instituto na época, afirma que as definições foram tantas que inviabilizaram a mudança."A conclusão foi que era melhor ficar com o que tínhamos. Quando você abre a questão, as pessoas dizem ser moreninhas ou cor de jambo, entre tantas outras respostas. A maioria da população não quer ser etiquetada racialmente", diz.

Câmara aprova cota de 50% para rede pública em universidades

Quinta-feira, 20 de novembro de 2008
BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados aprovou na quinta-feira projeto de lei que reserva metade das vagas de universidades públicas federais para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas. Essa cota será dividida por critérios sociais e raciais.PUBLICIDADESimbolicamente, a proposta foi votada no dia em que parte do país comemora o feriado do Dia da Consciência Negra. O projeto tem ainda que passar pelo Senado, antes de receber o crivo do presidente da República."A Câmara faz justiça à escola pública e ao combate à discriminação, com ação afirmativa", declarou durante a sessão o líder do PT na Casa, deputado Maurício Rands (PE).Para o deputado Paulo Renato de Souza (PSDB-SP), ex-ministro da Educação, a proposta é um avanço. O tucano destacou durante o debate sobre o tema, entretanto, que o Ministério da Educação terá de regulamentar a matéria a fim de assegurar o equilíbrio entre os critérios racial e o de renda.Segundo o projeto aprovado, metade dessas vagas reservadas será destinada aos alunos cujas famílias viverem com renda per capita de até 1,5 salário mínimo, ou cerca de 622,50 reais. A outra parte será preenchida por negros, pardos e índios. A divisão das vagas será definida de acordo com o perfil racial de cada Estado, e a seleção dos alunos se dará pelo rendimento escolar.Os mesmos critérios serão empregados para o preenchimento de vagas nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. Nesse caso, entretanto, os aspirantes às vagas precisarão ter cursado o Ensino Fundamental em escolas públicas.Se o projeto for sancionado com o texto atual, essas instituições de ensino terão até quatro anos para cumprir as novas regras.(Reportagem de Fernando Exman)

Igualdade Distante

Igualdade distante

Aurélio Augusto *

O editorial da folha de domingo 23 de novembro 2008, com o titulo de Igualdade distante, nas suas últimas cinco linhas, expõem a opinião do jornal defendendo a adoção de políticas universais em prol de uma verdadeira igualdade e oportunidades, que não descrimine ninguém pela cor que tenha ou deixe de ter.
No caderno especial cita opinião de 53 °/o dos entrevistados que acham que as políticas de cotas são necessárias, mas humilham.
São duas opiniões com conteúdo equivocados e contraditórios.
Em 1995 e agora em 2008, esse veiculo de comunicação do qual sou leitor e assinante, mostrou através de pesquisa idônea, o retrato da desigualdade em que vivem os afro-descendentes no Brasil em todas as áreas. Assim, como é possível defender apenas políticas universais que vão servir para prolongar essa situação, deveras humilhante.
Lembrem-se, os homens não são feitos para as leis, as leis que são feitas para o homem. Se esse for, e é o único jeito de corrigir desigualdades, tem-se que colocar o peso da lei a favor da promoção da igualdade racial, social e humana. Bolas! Em 1968 criaram a Lei do Boi – Lei Federal nº. 5.465/68 – que instituiu reserva de vagas de 50% para filhos da elite rural, nos cursos de Agronomia e Veterinária, ninguém abriu a boca.
Agora sobre as cotas dizem ser humilhante. Faça-me o favor, humilhante foi à escravidão. Humilhante foi à abolição inconclusa, humilhante é esse índice de desigualdade que expõem negativamente o nosso país, que é obrigado a assinar tratados internacionais de direitos humanos, porque os nossos jovens negros estão sendo dizimados na periferia urbana.
Faltam oportunidades imediatas e reparadoras, enquanto se crie e implemente políticas universais. Entendo que uma não confronta com a outra. Porque não acelerar ainda mais as políticas de ações afirmativas, enquanto debatem a solução definitiva em longo prazo (políticas universais)?
Nosso país esta atrasado nesse embate político, porém, ele é inevitável, cada um que procure o seu lado do front.


* Escritor, Poeta

Ministro Joaquim Barbosa entrevista à Folha de São Paulo

Joaquim Barbosa ministro do Supremo Tribunal Federal"Situações de discriminação só tive no Brasil"
FREDERICO VASCONCELOS DA REPORTAGEM LOCAL
"A Justiça brasileira trata mal os pobres, especialmente os negros", diz o ministro Joaquim Barbosa, 54, do STF (Supremo Tribunal Federal). No seu entender, "a questão racial deve ser tratada com igualdade efetiva de oportunidades".Autor de livro e de conferências sobre o racismo, o mineiro de Paracatu diz que no exterior as pessoas estão acostumadas com negros bem posicionados, "não demonstram o "estranhamento" tão comum entre nós".Joaquim Benedito Barbosa Gomes estudou muito. Aos 19 anos, servidor público, já possuía carro, "numa época em que poucas famílias de classe média baixa possuíam veículo", ele diz.O ministro é uma pessoa refinada e que preserva a sua privacidade. Gosta dos autores franceses do século 19 e, entre os brasileiros, de Machado de Assis e de Lima Barreto, o seu escritor nacional predileto."Identifico-me com sua história de vida, com a sua luta por reconhecimento numa sociedade extremamente conservadora e excludente", diz.Barbosa freqüenta as grandes salas internacionais de concerto, assim como assiste a shows de música popular brasileira. Transita com facilidade entre o erudito e o popular. "A fórmula talvez resida na minha tendência a relativizar tudo, a não dar muita importância às hierarquias e categorizações impostas pela sociedade", diz, em entrevista por e-mail.

FOLHA - O fato de ser "o primeiro negro" no STF traz alguma carga que o incomode? Nos contatos em outros países há alguma distinção? JOAQUIM BARBOSA - Na Europa e nos Estados Unidos, as pessoas já estão acostumadas com negros bem posicionados, falam com eles de igual para igual, não demonstram o "estranhamento" tão comum entre nós.
FOLHA - Certa vez, o geógrafo Milton Santos recusou, num restaurante em Paris, uma mesa escondida. Negro, não aceitou a discriminação. O sr. enfrentou situações iguais? BARBOSA - Situações como a experimentada pelo Milton Santos só tive no Brasil, antes de chegar ao Supremo. Hoje, acho que seria impossível, porque me tornei muito conhecido.
FOLHA - O sr. não faz da sua biografia nem da sua consciência negra uma bandeira, uma causa... BARBOSA - Não me sirvo da minha posição para fazer proselitismo racial, social ou coisa que o valha. Seria abuso de poder. Tampouco me deixo instrumentalizar por movimentos, pela mídia ou por quem quer que seja.
FOLHA - O sr. tem sido requisitado por movimentos sociais? BARBOSA - Sou muito requisitado para todo tipo de evento, mas só aceito convites após muita reflexão e ponderação. Não permito que me usem.
FOLHA - O sr. acha que a questão da desigualdade no país melhorou? BARBOSA - Tenho plena consciência das desigualdades brasileiras, sei que elas se manifestam nos mínimos gestos do cotidiano, na esfera pública, na esfera privada, na falta de oportunidade. Para enfrentar nossas imensas desigualdades, nós vamos ter que nos reinventar.
FOLHA - O sr. assistiu nos Estados Unidos à eleição de Barack Obama. Como essa experiência o marcou? BARBOSA - Foi um grande privilégio. Foi algo emocionante, no plano pessoal, ver as pessoas em absoluto estado de graça, de júbilo. Até mesmo na austera Corte Suprema, pude constatar esse clima de euforia. No plano institucional, essa eleição foi uma demonstração da capacidade de regeneração que tem a sociedade americana. Foi uma bela demonstração da pujança das instituições democráticas.
FOLHA - Quais os reflexos que essa eleição poderá ter no Brasil? BARBOSA - Terá um grande impacto em boa parte do mundo. Talvez menos na Europa, que tem muita dificuldade em admitir mudanças importantes. Não vejo a menor chance de surgimento de um Obama em qualquer dos países europeus.
FOLHA - Como o sr. compara a questão da igualdade racial no Brasil e nos Estados Unidos? BARBOSA - A meu ver, a questão racial deve ser tratada sob a ótica da igualdade efetiva (e não retórica) de oportunidades e de acesso, coisa que os Estados Unidos vêm tratando com razoável eficiência, e o Brasil tem muita dificuldade em fazer, não obstante alguns avanços pontuais nos últimos dez, 12 anos. Há 15 anos não havia negros na publicidade brasileira. Hoje já há, o que é muito positivo. Houve algum avanço tímido, muito tímido na mídia.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poesia para João Cândido

Inenarrável é a dor de uma chibatada,
inimaginável que se possa resistir a 15, 20, 30 delas.
À dor física, profunda,
junta-se a dor moral da humilhação e impotência.
Homens livres, marinheiros,
que trazem nossos navios de guerra
por mares e oceanos distantes,
merecem louvores, não chibatadas.
João Cândido, obrigado! Obrigado!
A tua Revolta da Chibata,
transformou-se na revolta de
todos os teus companheiros.
A coragem, e a destreza
no comando de naves imensas,
Aliaram-se à coragem para dizer:
Basta!!!!
Basta de violências! Basta de humilhações!
Basta de chibatadas!
Que fique suspensa, para sempre,
a mão que ouse levantar-se contra um marujo!
Que nenhum deles leve mais consigo
as chagas vivas no corpo e
na alma!
Novembro de 1910,
Basta! Basta!
Obrigado João Cândido!
Salve Almirante Negro!


Edialeda Salgado do Nascimento

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1910.

Dia Nacional da Consciência Negra
Inauguração da estátua de João Cândido
na Praça XV de Novembro, antigo Porto do Rio

20 de novembro, consciência negra

20 de novembro de 2008

Aurélio Augusto *

A data de 20 de novembro tem um importante significado para a história do Brasil, por isso mesmo em um futuro bem próximo será feriado nacional, pois a força do capital tem perdido espaço no mundo e aos poucos os verdadeiros valores de um povo e de uma nação vão se estabelecendo em definitivo.
A data em questão não seria apenas mais um feriado em detrimento do ponto de vista econômico, que desqualifica a razão de existência de qualquer situação que não seja produzir riqueza material em qualquer de suas modalidades, todos os dias.
Assim, não importa mérito ou motivo alegado por nós militantes, o discurso é que, o Brasil não suporta mais um feriado, (suporta sim, logo após esse momento de crise).
Esse discurso contra o feriado é da minoria organizada que detém o poder, e a maioria desorganizada que tem a decisão de mudança na mão, aceita a imposição do sistema simplesmente por não ter conhecimento de causa.
No caso da questão do negro, não percebem que é uma necessidade de confronto político. É a luta por igualdade de direitos na busca de resultados concretos e positivos. Os índices estatísticos do país, principalmente os índices sociais e econômicos, retratam a realidade fria e dura dos números, onde nós negros estamos inseridos negativamente, mesmo assim não somos coitadinhos, estamos na luta.
Alguns curiosos que se intrometem nesse assunto estão com a mentalidade tão atrasada que na era Obama, eles usam, como referência Agnaldo Timóteo, nada contra ele, merece nosso respeito, mas suas idéias além de ultrapassadas, servem apenas para mantê-lo polêmico e por conta disso freqüente na mídia.
É a cultura da esperteza, pois, ele tem visibilidade por ser assim, bom para sua vida profissional e só. Não interessa a grande mídia dar visibilidade a negros com conteúdo, senão estarão acelerando o surgimento de um Obama brasileiro, é melhor que apareçam mais Agnaldos Timóteos, enchendo a boca para dizer que negro rico e famoso não casa com negra. E que ele vai defender as negras lindas. Esse é o seu tema preferido, mas isso é uma verdade pontual, não é uma regra, e mesmo que fosse seria um traço da cultura do nosso povo, digo do povo brasileiro que endeusou a beleza eurocentríca.
Aqueles que não casam por amor quando ficam ricos e famosos são induzidos pelo subconsciente a ter acesso ao poder de ter o que antes lhe pareciam sonhos distante. Mas e daí? Onde fica nossa visibilidade, nos postos de comando, inclusive na cadeira de presidente da república.
Sei que neste 20 de novembro de 2008, de forma desrespeitosa ainda vão continuar falando de choramingos de negros na luta por igualdade, vão falar também que no Brasil não existe racismo.
Que seu melhor amigo é negro.
Que tem negro médico, doutores de várias áreas, que pra isso basta estudar.

Mas sei também, que no meio desses que fazem esse discurso vazio, existem alguns que são racistas enrustidos, tem também os analfabetos que não sabem fazer contas que revelam proporcionalidades, por isso, acham que ter um médico negro para cada 200 (duzentos) médicos brancos é natural, os negros não quiseram nem querem ser médicos, e a culpa é deles, e não de um sistema excludente.
Eles citam fulano ou beltrano que veio de família humilde, lutou com dificuldade e venceu.
Dizem o óbvio não compreendendo que esses são exceções que comprovam a regra.
O sistema não quer que o Estado Brasileiro, pague essa dívida moral e social com nosso povo negro, por isso, são contra as políticas públicas de ações afirmativas, porém, sabemos que isso é apenas uma questão de tempo.
Porque uma Luta Justa só conhece o caminho da vitória.
Encerrando, digo ao povo Brasileiro que em nosso país tem dois heróis, dois mártires, um foi esquartejado e outro decapitado.
Um era branco, outro era negro.
Um tem o dia 21 de abril como referência e é feriado nacional em homenagem á sua história.
O outro tem como referência o dia 20 de novembro e é feriado apenas em 262 municípios dos 5.564 existentes em nosso país, também em homenagem a sua história, depois de muita luta do Movimento Negro, para que isso fosse possível.
Esse é um exemplo de desigualdade, por essas e outras que lutamos, para que os ideais de Zumbi não tenham sido em vão.
Viva o 20 de Novembro, dia de um herói brasileiro.
Viva Zumbi!

* Escritor, Poeta e Presidente da Secretaria Estadual do Movimento Negro do PDT

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

OBAMA E FALA DE JOSÉ SARNEY

OBAMA E FALA DE JOSE SARNEY

Na sexta-feira, dia 14 de Novembro de 2008, li na folha de São Paulo, um artigo do ex-presidente José Sarney, intitulado Obama e Fala, onde entre outras coisas o senhor Sarney, pontua que a partir do discurso da vitória, Barack Obama, tem dado sinais que não o animaram.
Primeiro, a inclusão forçada de um cachorrinho para suas filhas no seu discurso.
Segundo, o excesso de retórica com a eleitora mais velha dos Estados Unidos.
Terceiro, a piada de mau gosto de não querer invocar as sessões espíritas de Nancy Reagan, para ouvir conselhos de seu marido.
E o grande problema de escolher num abrigo o cão para Casa Branca, com as dificuldades da filha alérgica que fosse um vira-lata.
Sarney, disse que isso cheira demagogia e que não era isso o que se esperava do presidente eleito.
Continua Sarney, queremos um estadista, um homem de idéias que nos levem a afastar o desânimo e a imagem dos Estados Unidos neste momento tão crucial da história.
A partir daí, o nosso ex-presidente, cai em contradição em seu artigo, pois, gasta seu vocabulário acadêmico falando de cachorros, inclusive do mais famoso deles, diz ele, que se chamava FALA, e que pertenceu ao Pres. Roosevelt.
Encerra o artigo dizendo que, o mundo espera que Obama não seja um vira-lata, mas o grande homem do nosso tempo, o Estadista negro que nos devolveu a esperança.
Digo com respeito que a idade do Senhor Sarney, merece.
Não acredito que nosso ex-presidente, seja um homem empolgado, a empolgação tem efeito passageiro dura enquanto dure o encantamento. Será que ele já esta desencantando com Obama? O homem ainda nem tomou posse, que só acontecerá em 20 de Janeiro de 2009.
Na verdade, preocupa-me com o lado oculto das pessoas que buscam ofuscar os valores humanos, determinando as falsas razões do preconceito e da discriminação embutida subliminarmente em comentários que não contribuem em nada com esse novo momento da história.
O mundo não espera nada senhor Sarney, quem espera nunca alcança, pois, tem mentalidade medíocre mesmo quanto recheada de intelectualidade, fruto de imaginação contaminada que só consegue ver o pior.
Lembro-me que no primeiro discurso de Barack Obama após as eleições, o novo líder de uma nova geração de lideres, pediu apoio ao povo Norte Americano para um novo tempo de sacrifícios e desafios. Vi aí, sinais positivos que me animaram e me entusiasmaram com a humildade e responsabilidade de um líder em compartilhar com o povo o processo de mudança.
Senhor Sarney, vamos ajudar Barack Obama a melhorar o mundo, com entusiasmo e não com empolgação, entusiasmar-se é reagir com equilíbrio perante qualquer desafio mesmo quando perde.
O entusiasmo individual ou coletivo faz-se saber que é possível vencer, pois mantém constantemente elevada à auto-estima como referencial de vencedor e de vencedores.
Assim é Obama, assim foi Luther King, que inseminou com atitudes idéias e ideais as mentes dos que ficaram e dos que virão.
Este momento histórico que vivemos provou que é possível realizar sonhos, principalmente os de cunho coletivos e justos que dão sentidos aos ideais de igualdade, essência da democracia.
Obama e a continuação da luta de King, o primeiro significa Abençoado (Obama) no dialeto dos seus ancestrais paterno, o segundo significa Rei (King) no idioma inglês, ou seja, com licença poética a fusão seria o Rei Abençoado. Será que nessa historia tem espaço para vira-lata? A não ser um cachorro como outro qualquer que já esteve na Casa Branca como animal de estimação de entes queridos de qualquer um dos antigos presidentes.
Ou no lado oculto da mente de um ex-presidente habita algum tipo de preconceito?

AURÉLIO AUGUSTO
- Escritor e Poeta - Presidente da Secretaria Estadual do Movimento Negro do PDT/MT-